Maresia na Costa

31 maio 2007

Concelho de Aljezur

(Clique na foto para ampliar)

Apetece dizer..., o paraíso da pesca existe!

Apesar de toda a pressão que é exercida pela pesca profissional e pela pesca semi-profissional na costa do Concelho de Aljezur ainda é possível aos amantes da pesca desportiva desfrutarem das emoções ímpares que resultam de uma jornada de pesca bem sucedida. Aqui é possível usufruir do prazer da luta com grandes sargos, douradas, robalos, pargos e com o belíssimo sargo veado.

Ainda há pouco tempo atrás, no dia do regresso ao trabalho um colega que também pesca dizia-nos com aquele olhar cúmplice...

– Ontem ferrei um “burro”..., percebemos logo o que queria dizer, tinha ferrado um dos “tais”, provavelmente um pargo com uma boa meia dúzia de quilos.

Infelizmente, nós que pescamos sabemos que é mesmo assim, o “grande” é o que fica lá... pois a nossa pesca é especializada, se estamos a pescar ao sargo com um fio 0,20 ou 0,25 mm e nos calha um dos tais “monstros” bem podemos dizer-lhe adeus, no entanto aqueles breves segundos/minutos em que ele esteve preso serão recordados por muitas horas.

Vamos então tentar contribuir para que desfrutem de algum do conhecimento que temos daquela zona de eleição para a pesca desportiva que é a costa do Concelho de Aljezur.

São cerca de 42 Km de costa, ou como nós gostamos de dizer, de 42 km de puro prazer. É nesta zona de acessos difíceis, águas frias, areias limpas, rochedos agrestes, falésias altas e escarpadas e mares batidos que podemos desfrutar do maior prazer do mundo, pescar!

Os amantes do Surfcasting e a malta do buldo e spinning têm aqui belíssimas praias para a prática daquelas modalidades, destacaria de Norte para Sul: a praia de Odeceixe, Samouqueira, Vale dos Homens, Carriagem, Amoreira, Montes Clérigos, Arrifana, Canal, Vale Figueiras, Bordeira (mais conhecida por Carrapateira) e a belíssima Praia do Amado.

As zonas entre estas praias estão polvilhadas de nomes “mágicos” a que correspondem outros tantos pesqueiros, vamos destacar alguns e indicar as modalidades que lá mais se praticam:

De Sul para Norte: entre a Praia do Amado e a Praia da Bordeira situa-se a zona de pesca mais conhecida, a celebérrima Carrapateira que tantas alegrias proporcionou aos pescadores e tantas vidas roubou àqueles mais afoitos ou incautos que arriscaram em demasia. O ex-libris da zona é o famoso Mazagão embora não faltem outros nomes mágicos como o Poção da Mourisca, Racha, Pontal, Hospital Velho, Cantinho da Perceveira, Inferno, Pias, Fidalgo e Calhau.

Esta é uma zona de falésias calcárias com cerca de 30 a 40 m de altura e descidas sinuosas e complicadas, muitas delas só acessíveis por cordas. A modalidade mais praticada é a pesca com bóia de correr, pois o mar é muito profundo chegando a pescar-se com a bóia travada a cerca de 20 m do anzol. A espécie mais capturada é o sargo, as grandes liças e alguns bons robalos no Outono e Inverno. Na Primavera e Verão pratica-se mais a pesca ao fundo direccionada às grandes douradas que volta e meia visitam aquelas paragens. Nessa altura também é frequente vermos os corricadores calcorreando as praias e percorrendo as falésias para tentarem descobrir algum cardume de robalos perto de zonas onde seja possível lançarem as suas amostras.

Entre a Praia da Bordeira e a Praia da Arrifana está uma das zonas mais inacessível mas bastante frutuosa. Quem conseguir ultrapassar aqueles acessos, recorrendo a motos e veículos de tracção total e estiver disposto a um pouco de alpinismo e uma bela caminhada desfruta da natureza selvagem no seu estado mais puro. É uma zona em que a pressão da pesca quase não existe e por isso extremamente frutuosa mas como se disse antes, não é fácil lá chegar.

Entre a Praia da Arrifana e a Praia da Amoreira voltamos a ter pesqueiros de mais fácil acesso, pelo menos para as viaturas, pelo que esta volta a ser uma zona bastante concorrida pela generalidade dos amantes da pesca. Por ser uma zona relativamente acessível e muito rica em marisco, principalmente em perceves, é aqui frequente encontrar todo o tipo de “viciados” nas diversas vertentes da pesca.

Pelo facto de na Arrifana se encontrar localizado um dos poucos locais acessíveis à colocação de embarcações na água, além de ser um local privilegiado para o pessoal da caça submarina e mariscadores nos semi-rígidos é também o local de excelência para as saídas para a pesca embarcada.

Desta zona pela facilidade dos acessos e pelos resultados fáceis de alcançar destacaríamos os pesqueiros “Ponta Alta”, preferido pelo pessoal do fundo e frutuoso em douradas e sargos e o conhecido “Treme-treme” onde a modalidade de eleição volta a ser a pesca ao fundo para as douradas e a chumbadinha e bóia para os sargos.

A Norte da Praia da Amoreira e até Odeceixe o recorte da costa e as facilidades de acesso ao mar voltam a mudar de tom, esta é uma zona onde volta a ser necessário o recurso a viaturas de tracção total para aceder a locais de eleição. Aqui os locais com as velhinhas motos “Zundap” e “Sach” dão baile ao pescador com o jipe de 200 cv e quando voltam carregados de peixe mentem com os dentes todos quando dizem onde o apanharam. Aqui eles são de facto os reis, o fio que usam é o Perlon da Bayer, os carretos guincham por todos os lados, as canas estão todas riscadas e com falta de passadores, o conjunto cana+carreto pesa quase 2 quilos e riem-se quando dizemos que aquilo é pesado… depois mostram o peixe que apanharam e… riem, pois claro…

Desta zona destacaríamos a Praia da Carriagem, muito justamente apelidada de “Rainha dos Sargos” e a zona do Rogil que tem de facto bons pesqueiros mas onde é necessário estar atento ao vento e ondulação prevista, pois são caminhadas muito longas e se não nos precavermos com o “conhecimento” possível, arriscamos o inevitável “baile”.

As modalidades de pesca reinantes, são a pesca ao fundo, chumbadinha e “ao sentir” como os locais gostam de dizer.

Aqui usa-se muito a pesca “ao rebolão” que consiste num género de chumbadinha, isto é, usa-se chumbada furada de correr de 30 a 60 gramas mas esta é em forma de amêndoa para deslizar facilmente pelos caneiros e lagedos xistentos, pode usar-se destorcedor e o estralho tem pouco mais de 1 palmo, normalmente de 0,35 mm.

As iscas reinantes são a inevitável sardinha, a gamba e o “nosso” ralo, no entanto os locais voltam a dar-nos “baile” com a ova de ouriço, ova de lapa, perceves, raio de polvo e a minhoca rabeadora que se esconde por debaixo das pinhotas de mexilhão pequeno.

Destacamos ainda o trabalho impar que tem vindo a ser feito pela autarquia no seu esforço por possibilitar o acesso de viaturas comuns à maioria das praias do concelho. De notar também a colocação de recipientes para recolha de lixo em todas elas, achamos que é mesmo em todas, bem hajam por isso.

Enfim…, tentamos dar aqui um modesto contributo, desfrutem porque a zona vale a visita!

4 Comments:

  • Boas AFerreira.
    Como sempre fazes uma descrição das imagens de beleza da tua região, para uma actividade que deve ser isso mesmo a beleza de desfrutar os momentos de prazer, pescando lúdicamente.
    Só é pena que a falta de critérios de segurança de alguns pescadores tragam uma fama de morte a essa costa de rara beleza.
    Gostei do que li.
    Fica bem

    By Blogger José Cavalheiro, at 9:45 da tarde  

  • Caro A. Fereira
    É pena que não escreva mais regularmente no seu blog, pois aprecio muito os seus textos. Também eu sou um apaixonado da costa vicentina e da pesca, embora os meus créditos como pescador estejam muito aquém dos seus. Esperemos que esta magnífica costa se mantenha selvagem durante muitos e bons anos e que a sua riqueza piscosa consiga escapar à voragem de alguns.
    Saudações "piscatórias"
    Mário Pinho

    By Anonymous Anónimo, at 5:31 da tarde  

  • Ferreira como vai a vida?
    Então lá foi mais um arriba a baixo?
    A malta não tem juizo nenhum, uma coisa que seria para descomprimir torna-se numa carrada de problemas.
    Cuida de ti ai por essas arribas.
    Fica bem

    By Blogger José Cavalheiro, at 2:42 da tarde  

  • Que texto tão bonito, pura paixão pela pesca e pela zona.
    Parabéns.

    Ana Costa

    By Anonymous Anónimo, at 7:08 da tarde  

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