Maresia na Costa

30 julho 2005

Pesca à Bóia na Costa Vicentina


Enquanto a época não recomeça vou deixando por aqui uns post's...

A Costa Vicentina é talvez ainda um dos últimos paraísos para a pesca em Portugal. Só de se ouvir este nome associamo-lo imediatamente aos fabulosos pesqueiros de Sagres e da Carrapateira, trazendo-nos à memória as histórias de grandes pescarias de sargos e robalos de grande porte. Infelizmente também nos lembramos logo das histórias de acidentes sofridos por pescadores, quase sempre, fatais.

De facto, ambas as lembranças são reais, é um local onde ainda se fazem grandes pescarias (embora cada vez menos) e também é verdade que todos os anos aquelas falésias roubam a vida a cerca de uma dezena de pescadores lúdicos.

No entanto, esse facto parece não incomodar a maioria dos que aqui se dedicam à pesca, vindos de outras zonas do Algarve e até, de outras áreas do País. Espalhados pelas falésias, inúmeros pescadores prosseguem a sua actividade indiferentes aos riscos que aí espreitam.

A altura das falésias, a profundidade do mar e a força do vento fazem com que nos sintamos bem pequeninos, face à força dos elementos. É aqui, que a terra acaba e o mar começa.

O material

Como já perceberam pelo que acima foi dito o local não é para brincadeiras por isso, toca a arranjar material a condizer, pois não vamos pescar em molhes ou pontões a 2 metros da água.

A cana – Telescópica, com pelo menos 5 m de comprimento e acção superior a 100 grs.;

O carreto – Forte, que levante sem problema um peixe de 1,2 kg a 50 m de altura, deve ter capacidade na bobine para, pelo menos, 250 m de monofilamento de 0,40 mm. Grande parte dos carretos que por aqui se vêm são feitos artesanalmente tentando imitar o mítico carreto Rocha (O carreto Rocha era fabricado por um operário da Lisnave, pesava quase 1 kg mas levantava peixes de 3 kg sem problemas e..., nunca avariava).

As bóias – De correr – A mais habitual é o clássico pião em tamanho XXL, que suporte chumbada furada de 50 a 80 grs., claro que em pesqueiros mais baixos, menos de 30 m, reduz-se o tamanho do pião de forma a que fique calibrado com chumbada furada de 20 a 40 grs., por cima da bóia leva uma pequena missanga que não lhe permite ultrapassar o nó de travamento.

Fixa – Bóias torneadas ou talhadas em madeira de diversos tamanhos, estas não necessitam de ser calibradas, trabalham deitadas. Também se pode utilizar o clássico pião, neste caso, este é apenas calibrado na madre com a chumbada e fixo sem folga com o nó de travamento/batente a impedir que a bóia corra.

A montagem – Por aqui ninguém pesca directo, utiliza-se sempre estralho para a montagem ficando a bóia e chumbada (se usarmos a bóia de pião) fixas na madre. A madre normalmente é em monofilamento 0,40 ou 0,45 mm, sendo o estralho, no mínimo do comprimento da cana, normalmente em monofilamento 0,25 ou 0,22 mm de boa qualidade. Não se usam chumbos fendidos no estralho, apenas uma chumbadinha de correr tipo olivette de 3 a 5 ou mesmo 8 grs para ajudar a afundar a iscada rapidamente.

No caso de bóias de correr o estralho tem os já citados 5 m, no entanto, consoante a profundidade dos pesqueiros, chega-se a pescar a profundidades de 15/20 m, vejam onde é que está o nó de travamento/batente…

No caso das bóias fixas, as que eu prefiro, o tamanho do estralho varia entre os 5 e os 10 m. Estas bóias têm um trabalhar muito mais natural e muito maior sensibilidade ao “toque” pois vê-se o afundar/empinar muito mais facilmente, mesmo com vento. Uma bóia de correr com um pouco de vento forma um “seio” de seda na madre e ao tentarmos esticá-la, para ter pouca folga, “obrigamos” a que a bóia se afaste do nó de travamento/batente o que a torna muito menos sensível aos “toques”.

Um dos espectáculos mais bonitos que se pode apreciar consiste em assistir à retirada de um bom exemplar, com mais de 1 kg, com bóia fixa e estralho de 8/10 m. A cana toda vergada e o peixe pendurado a kms da borda da falésia, inicia-se então a “dança” para a retirada do peixe que consiste em balanceá-lo para a esquerda, depois para a direita até que este movimento pendular permita a “chicotada” final que obriga o peixe a ultrapassar a falésia. Como depreenderão trata-se de uma técnica cujo domínio não é fácil e que nos custa alguns peixes até que a dominemos por completo.

Os iscos – Os iscos de eleição para a pesca à bóia reduzem-se apenas a 3, mas estes são quase obrigatórios: A sardinha para engodar e iscar com o filete do rabo ou o lombo, a gamba/camarão da costa fresca ou congelada e o célebre ralo, este último é realmente o tira-teimas com águas mais claras.

Os apetrechos – Porque a zona não é para brincadeiras, convém que nos equipemos a condizer, roupa confortável e folgada de forma a permitir liberdade de movimentos, calçado (muito importante) que “agarre” facilmente a rocha, nada de sapatilhas, botas de campino com sola macia, daquelas do mercado.

Para que tenhamos ampla liberdade de movimentos, já que muitas descidas são “manhosas” usa-se o kit “mãos livres”. O ceirão da Vicentina que se coloca às costas tipo mochila e que leva todo o material de que necessitamos, a mochila com o material de pesca, o isco, o pisador/migador de engodo, a cana já com o carreto montado (para não deslizar para um ou outro lado) e o balde com o engodo. Na parte posterior do ceirão coloca-se o cesto/rabeca que se prende com um mosquetão ou corda.

Os pesqueiros – Aqui é que a porca torce o rabo como se diria em gíria popular, vamos ter que distinguir 3 tipos de pescadores:

1. Os que vão à pesca passar um bocado bem passado em contacto com a natureza mas que não descuram o seu conforto e procuram pesqueiros acessíveis e abrigados;

2. Os que querem apanhar peixe não se importando com as condições climatéricas adversas nem com o seu conforto pessoal, apenas procurando arranjar um pesqueiro que dê peixe, mas nunca ultrapassando os limites do razoável pois não há peixe que valha uma vida.

3. Temos ainda o 3.º tipo de pescadores, os “loucos” das falésias, que munidos de cordas e carregados com todo o equipamento desafiam as falésias e pescam em locais onde mal cabe um balde e onde o mínimo descuido pode ser desastroso.

Enfim, o texto já vai longo e aqui o pescador, tipo 2, já tem saudades do Outono, que é quando a época recomeça...

Espero ter contribuído para que percebam um pouco melhor o que é a pesca por estas agrestes paragens.

Posted by ajs_ferreira_1961 at julho 30, 2005 07:14 PM


Comments

Boas Ferreira! entao e o da foto? é tipo 2 ou 3? o tipo descuida-se vai logo de carola e ainda falam da malta daqui de Sintra que abusa da sorte.....
O tal abraço.
ps é pa tenho que um dia ir ai exprimentar o teu quintal!!

Posted by: Filipe at julho 30, 2005 09:37 PM

Viva Amigo Ferreira,

Ao ler o seu texto até senti o cheiro desse paraiso que é a costa vicentina.
Amanhã lá estarei pra uma férias com maior do tempo dedicado à pesca pelas zonas de Monte Clérigo. Se quiser combinar uma pescaria deixo aqui o meu contacto ( 936048491 ).
Um abraço

Posted by: Fernando at julho 30, 2005 10:24 PM

Viva,

Felipão, aquele era pescador tipo 3, mas não lhe servíu de nada para além de disfrutar de uma vista priviligeada para ver os 3 "cabeçudos" que pus em cima de água... eh eh eh (infelizmente só consegui retirar o mais pequeno de 2,2 Kg).

Uma boa altura para visitares o "quintal" é por alturas do Carnaval ou da Páscoa, pensa nisso...

Abraço,

Posted by: A.Ferreira at julho 31, 2005 09:11 PM

Caro Fernando,

Também vou entrar de férias pelo que a família exige o seu quinhão e, isto em Agosto é "fogo", mas nunca se sabe... se for para a zona apito.

Abraço,

Posted by: A. Ferreira at julho 31, 2005 09:20 PM

27 julho 2005

O Começo...


Vou tentar iniciar-me nestas lides dos blogs tentando criar aqui um pequenino espaço onde amigos e visitantes possam dizer da sua justiça.

Este espaço vai ser um local de comentários acerca do maior prazer do mundo, PESCAR.

Em princípio irei tentar aqui colocar a seguir a cada jornada de pesca, um pequeno texto, se possível com fotos, descrevendo o que se passou.

Também pretendo aqui publicar alguns pseudo-artigos elaborados por mim e pelos companheiros que entendam facultar-mos para publicação.

Conto com a V. colaboração e perdoem antecipadamente alguns erros aqui do "maçarico" nestas lides.

Conto convosco para melhorar isto!

Posted by ajs_ferreira_1961 at julho 27, 2005 06:22 PM


Comments

Amigo Ferreira,
Desejo a melhor sorte para o teu espaço. Espero que ele não seja "apertado" como as falésias em que pescas.
Um abraço

FC

Posted by: Fernando at julho 27, 2005 06:32 PM

Boas Ferreira
Aqui deste paraiso plantado á beira mar, que dá pelo nome de Sintra, venho dar-te os meus parabéns pela iniciativa.
Também ja pensei aderir a blogagem.
Estou aqui pela net sempre ao fim da tarde e principio da noite.
Saudações

Posted by: José Cavalheiro at julho 27, 2005 07:21 PM

Mestre Ferreira!
Tudo de bom para o blog e para as boias maricas :)
Venham de lá essa fotos!
Um Abraço,
AGoncalves

Posted by: AGoncalves at julho 27, 2005 07:50 PM

Estou ansioso por essas noticias relacionadas com a pesca.
Desejo toda a sorte do mundo para este seu projecto

Vitor Bragança

Posted by: Vitor Bragança at julho 27, 2005 09:20 PM

Bem vindo amigo Ferreira!

O que precisares, conta comigo!

Um abraço

Posted by: Azenhas at julho 28, 2005 10:41 AM

Olá,
Vou continuar a aprecer para ler uns relatos.
Boas pescarias
Se quiseres passar por este forum de pesca desportiva e deixar também algumas das tuas fotos. Porreiro: www.pescadesportivaforum.web.pt
Aguardamos a tua visita

Posted by: Pedro at julho 28, 2005 01:44 PM

Força amigo, aqui estarei para ver as novidades...

Posted by: Pedro at julho 28, 2005 04:25 PM

Ora então muitas felicidades para este teu novo "cantinho"!!!
Cá espero para ver os relatos dessas pescarias e não só...

Abraço!
Franco.

Posted by: Franco at julho 28, 2005 06:55 PM

para se aprender tem que se praticar..

Posted by: herminio at julho 30, 2005 02:03 PM

Boas noites.
Aprecio muito os pescadores de falésias mas, não sou eu que vou para lá. Para além de ser um amador, gosto de pescar em locais seguros, que não coloquem em vida aqueles que se dedicam por desporto à pesca.

Tenham cuidado.

Cumprimentos
Manuel Luzia

Posted by: M.Luzia at julho 30, 2005 07:47 PM