Maresia na Costa

04 setembro 2007

As montagens para a pesca à bóia, alguns conselhos…


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O pescador de bóia é um apaixonado pela sua arte, para ele nada é mais excitante do que a constante procura de locais onde possa lançar aqueles artefactos e aguardar pelo momento mágico em que eles afundam desaparecendo nas profundezas.

Dificilmente um praticante de bóia irá enveredar por outra modalidade de pesca a não ser em situações ou pesqueiros muito especiais. O Pescador de bóia tenta sempre especializar-se mais e mais na sua arte.

A pesca à bóia proporciona sensações únicas, a leveza dos materiais e a pouca espessura dos fios utilizados levam a que sempre que haja uma ferragem seja travado um combate leal onde qualquer das partes pode levar a melhor. Por esse facto os níveis de adrenalina atingem patamares muito elevados e as grandes capturas têm um sabor muito especial.

O pescador de bóia recorda com prazer redobrado a captura “daquele” robalo de 4 Kg que foi efectuada com fio 0,20 mm no pesqueiro “xpto”. A lembrança daquela captura, pela dificuldade de que se revestiu, irá perdurar muito mais no nosso subconsciente do que se tivesse sido efectuada usando outras técnicas, corrico ou surfcasting, por ex: onde os materiais utilizados são muito mais “pesados” (grossos) limitando muito mais as hipóteses do peixe sair vencedor.

É consabido que as canas mais habituais na pesca à bóia são as de comprimento de 5 ou 6 m, com acção máxima de 80/100 gramas e os carretos mais comuns serão do tamanho 4000/5000 (falando de modelos Shimano) ou 2500/3000 (falando de modelos Daiwa), logo os pesos dos conjuntos andarão na volta das 800 gramas, permitindo assim uma jornada de pesca bem activa e onde o material não vai deixar marcas nas nossas costas para o dia seguinte.

Mas, vamos lá falar das nossas amigas bóias que é sobre elas que versa este pequeno texto.

As montagens para a pesca à bóia influenciam, e muito, o sucesso ou insucesso de uma jornada de pesca. Existem tantas variedades e pesos de bóias que o pescador principiante fica confundido com a panóplia destes acessórios existentes no mercado.

No intuito de ajudar os mais inexperientes vamos falar das mais usuais. À medida que o pescador for progredindo, ele próprio irá sentindo a necessidade de refinar e melhor adequar os materiais que vai utilizar.

Para já vamos distinguir 2 tipos de bóias, as fixas e as de correr, bem como 2 tipos de pesca à bóia: pesca directa e pesca usando estralho ou estropo.

As bóias que se encontram à venda estão marcadas em função do lastro/chumbo que as mesmas suportam para que trabalhem bem. Os tamanhos mais habituais são de 5, 8, 15, 20 e 25 gramas, existem mais pequenas mas são para pescas muito técnicas e também existem bem maiores especialmente para quem pesca em falésias, por ex: na Costa Vicentina.

O pescador mais experiente prefere quase sempre pescar directo, isto é, pesca-se usando a linha do carreto para que não existam emendas e nós na montagem pois especialmente em linhas finas os nós retiram resistência e elasticidade ao fio, podendo desequilibrar no combate com exemplares de certo porte. Deve-se trabalhar sempre com a embraiagem do carreto um pouco aberta, para que a linha corra se necessário, em caso de súbito arranque do peixe.

O lastro para a bóia pode ser chumbo fendido, muito macio para não trilhar o fio e deverá ser colocado a cerca de 40/50 cm do anzol. Há também quem corte pequenos troços de tubo de silicone, e coloque no fio apertando o chumbo por cima destes para evitar “ferir” o fio. Podem, ainda, usar-se pequenas olivettes de 2/3 gramas (chumbo furado em forma de caroço de azeitona) que corre pelo fio até ficar em cima do anzol. Caso seja necessário lastro suplementar para calibrar a bóia este coloca-se perto desta.

Esta pesca apresenta, também, a vantagem de facilmente podermos alterar a altura a que a bóia está a trabalhar, puxando-a mais para cima ou para baixo já que corre pelo fio se forçarmos um pouco. Deixava ainda uma recomendação muito importante: além de fixarem a bóia na quilha devem, também, fixá-la no topo da antena. Desta forma caso ferrem um exemplar grande e seja necessário utilizar uma rabeca, esta ao descer pela linha não vai encalhar na antena.

A pesca com bóia de correr é usada para pescar em locais onde a profundidade do pesqueiro ultrapassa o comprimento da cana e como sabemos que os nossos amigos peixes comem quase sempre junto ao fundo surge a necessidade de usar este tipo de montagem. Desta forma, se fixássemos a bóia à altura adequada ficaríamos com uma montagem muito maior que a cana e andávamos sempre atrapalhados com a distância da bóia ao anzol e caso ferrássemos um peixe teríamos grande dificuldade em efectivar a sua captura.

Apesar de também se poder pescar directo usando bóia de correr, pode travar-se esta entre dois batentes de silicone, por ex: o mais habitual é o uso de estralho. O recurso ao estralho permite que se use um fio mais forte no carreto, o que ajuda em pesqueiros de alguma altura onde o roçar do fio pela rocha é uma constante.

Uma bóia de correr pode ser calibrada com chumbo fendido ou furado, é quase indiferente optar por um ou por outro, e pode ser travada com 1 ou 2 travões de silicone ou por uma pequena pérola furada que irá embater num nó de travamento.

Onde costuma haver divergência de opiniões é no comprimento do estralho optando, uns por 1 estralho de apenas cerca de ½ m, a parte que se acrescenta após a fixação dos chumbos e outros que preferem estralhos com o comprimento da cana. Pessoalmente gostamos mais da última opção, pois um estralho mais comprido torna a montagem mais elástica e logo menos sujeita a roturas.

Acerca do nó de travamento importa também referir que muitos pescadores para fazerem o dito nó usam bocados de fio que se encontra no pesqueiro, optando muitas vezes por um bocado de fio grosso para facilmente fazer o “enchumaço”, isto é completamente errado! O fio para fazer o nó dever ser sempre de diâmetro mais fino do que o fio onde vai ser aplicado, só assim o teremos um nó apertado e durável. Usando um fio grosso o nó afrouxa e desfaz-se facilmente.

Os locais de pesca habituais também influenciam a montagem a utilizar, quem pesca perto da água por norma utiliza montagens e material mais discreto. Já os pescadores de falésia têm necessidade de utilizar material mais pesado, quer para que seja mais visível, devido à distância da água a que pescam, quer pela necessidade de ultrapassarem obstáculos, rochas, caneiros, etc.

As condições climatéricas também são de extrema importância, e elas ditam muitas vezes a opção por material ligeiro ou mais pesado. Como é bom de ver, se estiver vento e mar forte teremos de optar por material mais pesado.

Aprender a “perceber” qual a bóia adequada à pesca em face das condições climatéricas que existem no dia “x”, é subir mais um degrau na escada da excelência desta “especialidade”.

Acima de tudo interessa é ir à pesca, pois é lá, aprendendo a superar os obstáculos que nos aparecem que vamos progredir como pescadores. Além de que: em casa ninguém apanha peixe! Por isso, toca a por os anzóis de molho!!